Agronegócio

VBP Cascavel: muito além de soja e frango

VBP Cascavel: muito além de soja e frango

Cascavel – Com 71 anos e população superior de 330 mil habitantes, Cascavel se consolida como uma das cidades mais promissoras para morar e construir um futuro. A estrofe do hino da cidade: “Cascavel cidade hospitaleira”, não é à toa.  Todos os meses, centenas de pessoas desembarcam no município de “mala e cuia”, procedentes de diferentes rincões brasileiros e inclusive de países da América do Sul.

Com base em recente reportagem publicada por O Paraná, por meio de informações colhidas junto ao Secovi, Cascavel recebe em média 20 mil pessoas por ano. Se esse ritmo for mantido, em três anos chegará a 400 mil habitantes. Muito desse avanço é creditado principalmente à evolução porteira adentro. Ledo engano quem pensa que o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) se restringe à soja e ao frango. São 151 produtos responsáveis por elevar o VBP cascavelense à cifra de R$ 3,2 bilhões; esse é o valor de tudo que foi produzido pelo setor agropecuário em 2021 no município.

No mix de produtos explorados em Cascavel, há algumas excentricidades, como por exemplo, a produção de bucha vegetal, em uma área de 1,5 hectare, gerando uma produção de 13,5 mil unidades e um faturamento de R$ 22.140. Na apicultura, os produtores garantiram em 2021 uma produção de 700 quilos de cera de abelha, totalizando um retorno financeiro de R$ 25.137. Somente de mel, são 40 toneladas e uma receita de R$ 574,4 mil. Dentro dessa cadeia, a própolis responde por um montante de 30 quilos, gerando uma receita de R$ 5.278,80.

Outro item que ainda está presente e gera valor ao município é a erva-mate (em folha). A colonização de Cascavel se deve principalmente a esse produto. Conforme o VBP de 2021 foram produzidas em Cascavel 688 toneladas, garantindo uma receita de R$ 1,050 milhão. A ervilha, classificada como pulse, também está presente na produção local, com sete toneladas, resultando em R$ 37.030. Inclusive está saindo do papel uma futura parceria da prefeitura com a Embrapa Hortaliças, voltada a criar uma extensão em Cascavel para difusão dessas culturas alternativas. As conversações nesse sentido ainda estão em fase inicial.

Na área da fruticultura, Cascavel cultiva figo em uma área de três hectares, com uma produção de 24 toneladas e um retorno financeiro de R$ 298.320. A melancia responde por 20 hectares em Cascavel, propiciando uma produção de 260 toneladas e R$ 247 mil. O inhame também está presente na produção rural, com 18 toneladas em uma área total de exploração de 1,5 hectare. Essa produção garantiu em 2021 um faturamento de R$ 39.960. Em meio hectare, há também produção de 5 toneladas de jiló, gerando R$ R$ 17.850.

O Deral (Departamento de Economia Rural), ligado à Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento), publicou recentemente um documento mostrando que de 2012 a 2021, o crescimento real médio na agropecuária paranaense foi de 6% ao ano, saindo de R$ 50 bilhões para chegar a R$ 87 bilhões em 2021. Por sua vez, a agricultura teve evolução de 4% ao ano, de R$ 60 bilhões para R$ 88 bilhões. O VBP apresentou recuo: de R$ 7,7 bilhões em 2021 caiu para R$ 6,2 bilhões em 2021. O crescimento médio do Valor Bruto de Produção (VBP) agropecuária do Paraná, entre 2012 e 2021, foi de 5% ao ano. Em 2021, o valor alcançou R$ 180,6 bilhões, que é a soma de tudo o que foi produzido no segmento agropecuário, incluindo agricultura, pecuária e floresta. Nacionalmente, o Paraná foi o terceiro maior produtor de grãos, o segundo em faturamento bruto agropecuário e o quarto maior exportador do agronegócio.

O que é VBP?

O VBP (Valor Bruto da Produção) é um índice de frequência anual, calculado com base na produção agrícola municipal e nos preços recebidos pelos produtores paranaenses. Engloba produtos da agricultura, da pecuária, da silvicultura, do extrativismo vegetal, da olericultura, da fruticultura, de plantas aromáticas, medicinais e ornamentais, da pesca etc.

Além de fornecer dados sobre a produção agropecuária de todos os Municípios do estado do Paraná, tal índice compõe o Fundo de Participação dos Municípios. O Valor Bruto da Produção tem uma participação de 8% no cálculo usado para a determinação do índice final a ser aplicado sobre a arrecadação do ICMS, que resulta na cota-parte devida a cada Município.

Piscicultura: Cascavel é referência

Apesar da existência de alguns gargalos que ainda precisam ser superados, a piscicultura em Cascavel vem apresentando um avanço considerável nos últimos anos. Uma das referências na produção de peixes no município é o médico veterinário André Heitor Costi Neto, da Aquioeste (Associação dos Aquicultores e Piscicultores do Oeste do Paraná). Conforme o VBP, foram produzidos 1.235.000,00 peixes ornamentais e um retorno financeiro de R$ 2.470.000,00. Já em relação à tilápia, os números mostram uma produção de 1.750.950 quilos, com uma receita de R$ 12.519.292,50.

A associação existe há três anos e seus associados respondem por 60 hectares de lâmina d´água. “Nos próximos anos, queremos chegar a 600 hectares”, estima Costi Neto. “Isso nos fará a ter voz e vez na compra e venda”. Os cursos oferecidos pela associação já qualificaram ao menos 150 produtores. Costi Neto está na atividade há seis anos.

Pecuária de qualidade em vez de quantidade

Cascavel já pode ser considerada a meca de transferência genética do Brasil. O presidente da SRO (Sociedade Rural do Oeste do Paraná), Devair Bortolato, o Peninha, comenta que o município é visto nacionalmente por vários motivos, como prestador de serviço, indústria, mas pouco se fala no potencial exercido pela pecuária. “Somos um polo pecuário, não em quantidade, mas em qualidade”, salienta. Hoje, são 12 criadores de gado puro, ou seja, transferência genética, que cria touros e fêmeas puros. “Temos hoje o maior criador da raça angus do Brasil, com 30 touros em centrais espalhadas pelo Brasil para coleta de sêmen”. Cascavel ainda conta com um dos melhores criadores da raça tabapuã, brangus e nelore. “Produzimos muita qualidade de carne nobre”.

Não são apenas as commodities que fazem o nome da cidade ecoar pelos quatro cantos do País e fora dele. A pecuária tem se traduzido como uma atividade modelo. Um dos responsáveis por esse status é o agropecuarista Renato Zancanaro, que há 25 anos, mesmo ante olhares incrédulos, apostou em uma raça hoje sinônimo de qualidade e bom gosto, a angus. O interesse pela raça surgiu por meio do irmão de Renato, Leandro Zancanaro, que cursava agronomia em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ao visitar uma fazenda, identificou um possível investimento futuro na raça. “Começamos então a fazer os cruzamentos com outras raças na época, como charolês e simental, mas logo optamos pelo cruzamento só com angus, no fim da década de 1990”.

A partir de investimento e pesquisa, a Angus Rio da Paz alcançou índices de nível internacional. Atualmente, Cascavel é a cidade paranaense com maior número de criadores de gado puro.

Zancanaro destacou que por três anos seguidos, a Angus Rio da Paz conquistou o mérito genético. Trata-se da maior premiação concedida a um rebanho como parte do Promebo (Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne) nível Brasil. A Angus Rio da Paz é referência nacional e sua genética já rompe fronteiras. Atualmente, ela conta com um rebanho de 600 cabeças. “Toda tecnologia utilizada na Fazenda Rio da Paz é focada no melhoramento do desempenho do rebanho”.

Agronegócio coloca município no topo de rankings

Não é por acaso que Cascavel tem ocupado posição de destaque nos últimos tempos no cenário nacional. O secretário de Agricultura, Renato Segala, faz alguns apontamentos que comprovam esse novo momento experimentado nos diversos setores públicos, em especial na sua pasta. Ele mencionou a superação das adversidades, recordando a estiagem enfrentada pela região em 2021. “Mesmo assim, conseguimos alcançar um crescimento do Valor Bruto da Produção, tornando Cascavel um dos municípios modelos em produção agropecuária paranaense”.

Em 2021, Cascavel ultrapassou as cifras de R$ 3,2 bilhões, por conta das dezenas de atividades responsáveis por fomentar o desenvolvimento no município. Como não poderia deixar de citar, a avicultura é considerada por ele um dos carros chefes do VPB local. “Em recente levantamento realizado pelo IBGE, Cascavel é o primeiro município brasileiro a ocupar o topo do ranking na produção do frango de corte”, comemora. Para Segala, além de projetar o nome de Cascavel, esse status possibilita um avanço no resultado econômico local e principalmente envolvendo a criação de postos de trabalho, gerando emprego, renda e oportunidades para a população. Essa condição inclusive contribui para a permanência do homem no campo e incentiva a sucessão familiar rural. Essa posição de destaque nacional é atribuída ao trabalho dos avicultores do município, que mesmo em uma área considerada pequena, obtém bons resultados graças à pesquisa e assistência técnica garantida pelos profissionais de agronomia.

100 agroindústrias

Dentro de todo o contexto de expansão rural do município, as agroindústrias desempenham papel preponderante, na ótica do secretário da Agricultura de Cascavel.  São mais de cem agroindústrias cadastradas, algumas com Selo de Inspeção Federal, graças ao credenciamento obtido junto ao Ministério da Agricultura. Outras agroindústrias também conta com o selo estadual Susaf (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte), poucos municípios do Paraná tem essa condição. “Todo o suporte é garantido, sempre com os cuidados necessários de sanidade, para que os produtos da agroindústria sejam competitivos no cenário municipal, estadual, nacional e internacional”.

Melhor cidade do Brasil para se investir no agro

Cascavel também foi destaque, com base em um trabalho de consultoria Urban System, com publicação na Revista Exame, colocando o município como um dos principais do Brasil para se investir no agronegócio. No ranking nacional, ocupa a quarta colocação neste contexto e a primeira no Paraná. “Essas posições se devem à capilaridade da nossa região, abençoada por Deus. Com uma composição de mais de cinco mil famílias de produtores rurais. E o nosso trabalho quanto poder público, sendo feito na atual administração, com uma atenção especial para garantir condição de mobilidade, no sentido de garantir agilidade e segurança no escoamento da produção em todas as suas vertentes”. São 3.450 quilômetros de estradas rurais em Cascavel em uma área territorial do município de 2.100 km², ou seja, entre os quatro maiores municípios em extensão territorial do Paraná.