Agronegócio

Tilápia: aumento do preço pago ao produtor não minimiza custos

As intempéries climáticas comprometeram o desenvolvimento da espécie

 Cooperativa Copacol - Abate de Tilapia  - Foto : Jonathan Campos / AEN
Cooperativa Copacol - Abate de Tilapia - Foto : Jonathan Campos / AEN

Palotina – Em meio à notícia veiculada na mídia nacional sobre a elevação do preço pago ao produtor pelo quilo da tilápia, justificada pela baixa oferta e demanda aquecida, a equipe do O Paraná, entrevistou um dos principais produtores de peixe do Oeste do Pardaná e vice-presidente do Sindicato Rural de Palotina, Edmilson Zabot.

Com base em levantamento apresentado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, as cotações da tilápia avançaram no mês de outubro, chegando ao terceiro mês consecutivo de alta. Conforme o Cepea, esse movimento é resultado da baixa oferta de peixes em peso ideal para abate e da demanda crescente no mercado doméstico.
No oeste paranaense, o peixe chegou a ser negociado a um preço médio de R$ 8,13/kg, avanço de 3,7% na comparação com o mesmo o mês anterior. Em um dos momentos mais favoráveis, atingiu o preço de R$ 8,50 o quilo. Mas hoje, a realidade é bem diferente. Já no Norte do Paraná, o valor pago ao produtor de tilápia in natura teve média de R$ 8,23 kg no mês de outubro, ou seja, 2% maior que no mês anterior.
O piscicultor Edmilson Zabot observou “um pequeno aumento” de preços pago ao produtor em um período curto. Segundo ele, 2022 foi um ano complicado para a piscicultura, em decorrência das baixas temperaturas e de períodos de estiagem severa. Um ano atípico para a produção. “Faltou peixe com tamanho ideal”, comenta. As plantas frigoríficas preferem abater peixes com peso médio entre 950 gr a 1,1 kg.

Custo de produção
As intempéries climáticas comprometeram o desenvolvimento da espécie. “Mas é preciso ficar bem claro que esse pequeno aumento ficou longe de compensar o alto custo de produção, principalmente em relação à energia elétrica”. Outro agravante, conforme Zabot, diz respeito ao alto valor do quilo da ração.
A situação tende a ficar pior para os piscicultores. Além do custo da ração, o fim do programa de Tarifa Rural Noturna, que garante energia mais barata ao produtor das 21h às 6h, vai resultar no abandono da atividade por parte de muitos piscicultores da região, conforme Zabot. “Que essa Tarifa Rural Noturna permaneça por pelo menos mais um período, suficiente para a transição da energia elétrica para as alternativas, como solar e biometano”.
A privatização da Copel também preocupa os produtores de peixe quanto ao retorno da Tarifa Rural Noturna. “Já tínhamos encaminhado para o Governo do Paraná o pedido para que a Tarifa Rural Noturna fosse prorrogada para mais quatro anos”, lembrou o produtor, apreensivo com os rumos que a estatal terá após a privatização, mesmo que parcial.
Sem esse benefício, a atividade corre o sério risco de sofrer uma debandada, não somente na área da piscicultura, mas também de outras estratégicas para a evolução econômica do Paraná, como a avicultura, suinocultura e bovinocultura de leite, conforme prevê o Zabot. Estudos recentes apontam que a energia elétrica corresponde a 42% do custo de produção em uma propriedade rural.

Maior do Brasil
O Anuário 2022 da Peixe BR (Associação Brasileira da Piscicultura) apontou o Paraná como o maior produtor de peixes produzidos em cativeiro. Segundo o documento, a produção cresceu 9,3%, em 2021, com 188 mil toneladas, 16 mil toneladas a mais do que no ano anterior.
O cultivo da tilápia respondeu por 182 mil toneladas, mais que o volume somado dos dois Estados que aparecem na sequência, São Paulo (76 mil toneladas) e Minas Gerais (47 mil toneladas). O Estado tem um modelo de produção relacionado com as cooperativas agrícolas, com ênfase na região Oeste e, mais recentemente, no Noroeste. Na Grande Curitiba prevalece a atividade dos pesque-pague.
As cooperativas tiveram papel fundamental no desenvolvimento da atividade, na medida em que ajudaram a estruturar e estimular a cadeia e, por meio da instalação de frigoríficos que abatem e processam os peixes. A C. Vale, localizada em Palotina, deu início ao sistema de integração para produção de tilápias há quatro anos e hoje processa 100 mil unidades por dia, fornecidas por mais de 200 cooperados. A região Oeste responde por 70% da produção estadual, principalmente nos municípios de Nova Aurora, Toledo e Palotina – os três maiores produtores do país. A região Oeste foi a pioneira e as cooperativas deram o grande impulso. Primeiro, veio a Copacol, que instalou o primeiro frigorífico, depois a C. Vale e, em seguida, outras empresas do ramo.