Toledo – Com aumento de mais de 70% no volume de exportações no mês de abril deste ano se comparado a igual período de 2018, a suinocultura paranaense – influenciada pela região oeste onde está quase metade da produção estadual – parece que, enfim, está superando as incessantes crises.
Com o mês de maio perto do fim e os bons desempenhos nas vendas externas também neste mês, o segmento espera volume crescente nas transações em percentuais como há muito não se via. Aliás, o desempenho do oeste do Paraná nas vendas de carne suína é o melhor em dez anos, segundo dados da balança comercial.
Para o economista Luiz Eliezer Ferreira, do Departamento de Economia do Sistema Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), esses já são os reflexos do comércio internacional mais aquecido, influenciado por uma série de três fatores.
O primeiro e principal deles é que a Ásia – mais precisamente a China – está abatendo milhões de cabeças de matrizes. A nação mais populosa do mundo enfrenta graves problemas sanitários com o avanço da peste suína africana.
A mortandade de animais fará com que os chineses ampliem suas importações de uma das carnes mais consumidas naquele país em volumes ainda não projetados com precisão. E são justamente eles os principais responsáveis por esse avanço nas transações comerciais daqui. “Acredita-se que esse mercado para a China siga bem aquecido por pelo menos uns cinco anos, quando conseguirão repor suas matrizes e resolverão por completo seus problemas sanitários. Eles também estão preparando, fazendo estoque para que não falte o produto, afinal, são quase 1,4 bilhão de pessoas para alimentar”, afirma o especialista de mercado, o engenheiro agrônomo José Augusto de Souza, de Toledo.
Segundo o IBGE, Toledo é a cidade brasileira com o maior plantel estático de suínos do País com mais de 1 milhão de cabeças. Em todo o oeste, mais de 5 mil produtores engordam e fazem o processo de terminação de algo bem próximo de 2,6 milhões de cabeças e a tendência é para que nos próximos dez anos isso possa dobrar. A expectativa é para que o mundo não deixe de consumir o produto.
Guerra comercial
Para o economista da Faep Luiz Eliezer Ferreira, o segundo fator que se apresenta propício para o Estado é a guerra comercial travada entre Estados Unidos e China. “Com essa briga comercial, um sobretaxando o outro, os chineses deixam de comprar carne suína dos Estados Unidos e o Brasil se beneficia diretamente com isso”, completa.
O terceiro dessa lista reflete diretamente nas cifras vultosas às exportações alargadas pela extrema valorização do dólar, já que as transações internacionais são todas pautadas na moeda norte-americana. “O dólar mais valorizado que o real é bastante benéfico às exportações, isso significa que esses números de maio deverão ser ainda melhores. Isso sem contar que a missão brasileira à China na semana passada pretende habilitar cerca de 70 novas plantas para a venda dessa carne para lá”, avaliou, ao considerar que as principais beneficiadas devem ser as indústrias do oeste de onde sair cerca de cinco em cada dez quilos da carne produzida no Paraná.
Quilo da carne sobe de R$ 3,78 para R$ 4,09
Neste mês, o preço do quilo da proteína subiu de R$ 3,78 para R$ 4,09, condição que promete beneficiar produtores e indústria com reajustes dados como certos. Por outro lado, esse rearranjo de mercado já tem interferido no mercado interno. Apesar de até o ano passado o Brasil vender algo próximo de 20% do que produz, os compradores internacionais já influenciam na oferta por aqui. “Já é possível observar um aumento do preço da carne suína no mercado interno. Exportar está mais vantajoso”, destacou.
Até o fim do ano passado, o Brasil vendia para outros países cerca de 400 mil toneladas da carne em uma produção de pouco mais de 2 milhões de toneladas. Nos quatro primeiros meses deste ano o Paraná exportou 30 mil toneladas, que resultaram em US$ 61 milhões. Quase 10 mil toneladas e mais de US$ 20 milhões somente em abril, contra 5,3 mil em abril do ano passado. “Tivemos uma queda nessas exportações em janeiro, um pequeno aumento em fevereiro, outra queda em março, mas em abril os dados foram todos superados, indicando que vão seguir crescentes por este e pelos próximos meses”, reforçou o economista do Sistema Faep Luiz Eliezer Ferreira.
Custo de produção
Outro ponto favorável ao setor é o custo de produção bem menor que no mesmo período do ano passado. “70% da ração é composta por milho e o custo da produção, com a saca de milho valendo menos, ficou mais barato também. Isso contribui para o fortalecimento do segmento carne”, reforçou o economista, ao lembrar que cada quilo de suíno compra hoje oito quilos de milho. Em setembro do ano passado cada quilo comprava apenas cinco quilos de milho.
Aftosa e novos mercados
O aquecimento do mercado deverá se beneficiar ainda em outras frentes. A abertura de novos mercados, como o mexicano e mais países asiáticos, por exemplo. Mas o grande filão deve mesmo ser o fim da vacinação contra a aftosa.
O Paraná vacina, neste momento, o rebanho de até 24 meses de bovinos e bubalinos e a promessa é para que isso ocorra pela última vez. Em setembro o Ministério da Agricultura deverá certificar o Estado como área livre da doença e sem vacinação. Apesar de a doença atingir apenas bois e búfalos, a cadeia de suínos é bastante afetada, com mercados que se opõem a comprar a carne, por não confiar no status sanitário. “Com o fim da imunização passaremos a alcançar mercados hoje fechados”, completa o economista.
Apesar de a certificação interna ocorrer neste ano, para organismos internacionais isso só chegará na prática em 2021. “Mas só com o fim da vacinação muitos países terão mais confiança de comprar daqui, Poderão utilizar protocolos de outros países que já compram da gente para abrir mercado. Isso é muito positivo”, encerrou o especialista de mercado José Augusto de Souza.
Reportagem: Juliet Manfrin