A reacomodação do dólar no mercado nacional, apesar de novas elevações nos últimos dias, fez com que o preço da soja recuasse 17% em reais em menos de três meses.
No início desta semana a oleaginosa estava cotada para produtores do oeste do Paraná a R$ 69,5 a saca de 60 quilos, distante dos R$ 81 pagos no início de setembro.
A moeda americana valendo menos no mercado brasileiro, apesar de voltar à casa dos R$ 3,90 nos últimos dias, deixou o principal produto de exportação um pouco menos atrativo para quem produz por aqui e vende para outros países, mas uma das principais influências está pautada nas comercializações antecipadas do grão.
Em setembro, na efervescência da campanha eleitoral quando o dólar chegou aos R$ 4,20, os contratos de venda futura eram firmados a R$ 80 a saca. Na expectativa de que o grão pudesse ser ainda mais valorizado para os contratos a serem cumpridos no momento da colheita, muitos produtores seguraram o produto e resolveram não comercializar.
Ocorre que agora os contratos de venda futura estão sendo assinados em R$ 70, ou seja, R$ 10 a menos por saca. “Na prática, o produtor vai ter uma rentabilidade um pouco menor se a cotação seguir assim, se as condições climáticas se mantiverem como estão agora, se o dólar seguir nesse patamar, se a produção brasileira ficar naquilo que se espera [120 milhões de toneladas em todo o Brasil] e se o mercado seguir comprando o produto, mas o que observamos é que houve um baixo percentual de vendas antecipadas na região no período adequado para isso”, reforça o economista Marcelo Dias.
16% já vendido
Em todo o oeste do Paraná, a estimativa é para que tenham sido comercializados antecipadamente, segundo levantamento de cooperativas e cerealistas, em torno de 16%, mas o mercado está relativamente parado neste momento. “E recomendamos aos produtores para que segurem as vendas, esperem para ver como ficará o cenário nos acordos comerciais”, disse o especialista de mercado Fábio Meneghini, em evento recente para agricultores no oeste do Paraná.
Ao se considerar apenas a regional de Cascavel, com 28 municípios cobertos pelo Núcleo da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento), o percentual de venda antecipada é inferior à média de todo o oeste. Segundo o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) José Pértille, foram comercializados apenas 7,5% daquilo que se espera colher na abrangência do núcleo. “São 150 mil toneladas comercializadas antecipadamente. Esperamos colher no núcleo 20,9 milhões de toneladas e, neste momento, pelo que observamos com as cooperativas e os especialistas, está tudo meio parado em se tratando de novos contratos”, observa o técnico.
A expectativa é para que essa retomada em larga escala ocorra próximo da colheita, no primeiro trimestre de 2019.
No meio do ciclo
E por falar em colheita, a soja chega neste momento na metade do seu ciclo na região, tendo em vista que a maior parcela de cultivo ocorreu próximo do dia 20 de setembro. Diferente do ciclo 2017/2018, neste ano o desenvolvimento da oleaginosa é considerado excelente. São quase 1,1 milhão de hectares no oeste do Estado, de onde se espera colher 3,9 milhões de toneladas. Essa expectativa inicial de produção deverá ser mantida e até mesmo elevada se o clima e o tempo continuarem contribuindo. “O desenvolvimento está ótimo e por enquanto está tudo sob controle. O produtor precisa ficar atento para as aplicações de fungicidas por conta de pragas e doenças oportunistas, mas no mais está tudo caminhando muito bem”, completa o técnico do Deral José Pértille.
A colheita se inicia em 20 de janeiro, com a intensificação na primeira e na segunda semana de fevereiro de 2019. Neste momento, 20% das lavouras estão em desenvolvimento vegetativo, 50% em floração e 20% em frutificação.