Marechal Cândido Rondon – Euclides Klein é suinocultor integrado, mas já foi independente. Não gosta de lembrar da agonia financeira que foi antes da transição. “Sofremos muito. As crises vinham e levavam tudo. A suinocultura sempre está em situação difícil. Chegou uma hora que não deu mais para caminhar com as próprias pernas”, desabafa.
Há uma década, seis em cada dez suinocultores da região oeste do Paraná eram produtores independentes. Na prática, eles eram responsáveis pelo cuidado com os animais desde o nascimento até a terminação. Precisavam comprar o milho para a ração, eram responsáveis inclusive pelos tratos veterinários. No fim das contas, vendiam para quem julgassem ser mais vantajoso.
Detalhe: é no oeste que estão 40% desse segmento pecuário do Estado.
Ocorre que a suinocultura vem mergulhando em uma crise atrás da outra com suinocultores quebrando e deixando para trás rastros de dívidas. Estima-se que pelo menos 20% deles tenham deixado a atividade nos últimos anos e a maioria – praticamente dez em cada dez dos que ficaram – migrou para a integração. “Se eles não estivessem integrados, não sobreviveriam no mercado. O problema é que muitos suinocultores também faliram com as integradoras. Um depende do outro para sobreviver e um só vai bem se o outro estiver bem”, afirma o especialista em suinocultura Leoclides Bisognin.
Como integrados, eles recebem o animal para uma unidade produtora de leitões ou para a terminação, recebem os insumos para prepará-lo para o abate. Sem despesas extras, recebem pelos cuidados com os animais e por ceder o alojamento nas granjas.
Ocorre que, apesar de receberem sem arcar com as despesas mais robustas da produção, a nova crise do setor preocupa mais uma vez. O preço do milho subiu 90% em um ano, cuja saca saltou de pouco mais de R$ 19 para cerca de R$ 36 na região, coloca a atividade em situação difícil. Situação ainda mais crítica para quem não tem estoque de milho.
Novo mercado
Apesar de todas essas condições, um cenário começa a mudar. Com a produção anual de 2 milhões de toneladas, atualmente o Brasil exporta cerca de 25% desse total, o que equivale dizer que 1,5 milhão de toneladas vêm sendo acomodadas no mercado interno.
Segundo o diretor da Cooperativa Frimesa, com sede em Marechal Cândido Rondon, Elias Zydek, uma das líderes nacionais na venda de cortes suínos, o segmento volta seus olhos neste momento para um novo mercado que se abre ao produto brasileiro. Em vez de ficar na dependência de países como a Rússia, que embargou a carne suína brasileira há cerca de um ano, os olhos se voltam à América. É o caso dos mexicanos. Antes eles compravam do Nafta (North American Free Trade, sigla em inglês do bloco econômico da América do Norte), atendidos basicamente pelos Estados Unidos, mas agora pretendem importar 400 mil toneladas da carne por ano. “Precisamos cumprir as exigências sanitárias porque já começaram as conversas com o México, são 400 mil toneladas de carne por ano e o Brasil nunca havia exportado para lá. Vamos torcer para que ao menos em 2019 o país seja destino da carne suína brasileira”, disse o diretor da Frimesa, ao considerar que seria um marco fundamental para as exportações da região.
Mercado russo ainda sem definição
As negociações com o México podem indicar um divisor de águas quanto à dependência brasileira do mercado russo. “A expectativa do setor era de que a Rússia e os Estados Unidos brigassem, o que não ocorreu. Então quando países maiores ficam bem comercialmente, quem sofre são quem está na dependência desses mercados”, diz o especialista Leoclides Bisognin.
Hoje a pauta internacional da carne suína brasileira atende essencialmente China, Hong Kong e Rússia, cuja expectativa era para que o embargo à carne brasileira fosse derrubado logo após o fim da Copa.
Para alguns especialistas, o embargo russo foi uma medida protecionista para estímulo ao consumo da produção interna, já que o país é o maior consumidor de carne suína do mundo. “Eu não acredito numa liberação em breve da Rússia”, estima o especialista.
Aumento da produção
Leoclides Bisognin avalia que, entre avanços e tropeços, o segmento precisará de expansão e para logo.
Se por um lado o setor vive momentos de fragilidade, por outro o oeste precisará ampliar suas granjas muito em breve. Isso porque uma nova unidade da Frimesa que deverá entrar em funcionamento nos próximos anos e exigirá o dobro da produção para abate. Hoje o oeste abate de 15 mil a 17 mil animais por dia e quando a estrutura for concluída e estiver em plena atividade, até 2025, esse número deverá ser ampliado para 30 mil animais/dia. “Apesar de todos os problemas, é um setor em crescimento e que precisa de expansão”, concluiu.