"Estou em Bruxelas, mas sempre pensando em nossos produtores rurais. A soja caiu 50% desde 2012 até agora, quando fui eleito. Os produtores têm a pior renda em 15 anos. As tarifas e barreiras de outros países estão destruindo nossos negócios. Vou abrir as coisas, deixá-las melhores do que nunca, mas não pode ser muito rápido. Estou lutando por um melhor nível de jogo para nossos agricultores e vou vencer". Essas foram as palavras do presidente Donald Trump, via Twitter, semana passada, mostrando sua “preocupação”. Enquanto isso, a China anunciava sua previsão das importações de soja para o ano comercial 2018/19 – que começa em 1º de outubro – para 93,85 milhões de toneladas. Ao ser confirmado, esse número será de 1,8 milhão de toneladas – ou 2% – menor do que a estimativa anterior do Ministério da Agricultura do país asiático. Haverá também uma baixa em relação à atual temporada, onde as importações estão estimadas pelo órgão em 95,97 milhões de toneladas.
Ainda de acordo com o boletim reportado pelo ministério chinês, as tarifas sobre a soja importada dos Estados Unidos em retaliação às tarifas colocadas pelos americanos em produtos da China deverão promover uma inflação dos preços da oleaginosa, além de provocar a necessidade dos processadores de buscarem alternativas para sua fonte de proteína.
O relatório mostrou ainda que a demanda por farelo de soja, por exemplo, já foi afetada com perdas na suinocultura, que é seu maior demandador.
Todo esse movimento já levou os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago a registrarem suas mínimas em dez anos. E as contas deste impacto têm sido feitas por produtores de todo o país, os quais Trump tem tentado proteger, com medidas que possam mitigar os efeitos dessa taxação. "A matemática é simples. Você taxa a soja em 25% e então terá danos muito severos sobre os produtores norte-americanos", diz John Heisdorffer, um sojicultor de Iowa, ao portal internacional CNN Money.
Queda significativa
Neste ano comercial, os chineses respondem por somente 17% da soja vendida pelos EUA, bem menor do que a média de 60% da última década, segundo uma análise feita pela Reuters Internacional. Na outra ponta, os chineses têm ampliado de forma intensa e bastante significativa suas compras no Brasil.
"O Brasil vai vencer frente a isso tudo. Mesmo em meio a uma guerra comercial, que é ruim para todo mundo, o mercado vai se ajustar a essa nova realidade e a boa notícia vem com esse demanda muito forte. Os chineses não podem parar de comprar", diz o analista de mercado da Cerealpar e consultor do Kordin Grain Terminal, de Malta, Steve Cachia ao The Wall Street Journal.
Menos dependência
Na busca por reduzir sua dependência dos EUA, a China deverá continuar a buscar alternativas de fornecedores de soja, posição reforçada pela trader estatal de grãos COFCO, uma das maiores do país.
Yu Xubo, representante da empresa, disse em entrevista nesta semana que a nação asiática poderá ainda aumentar suas compras de produtos como canola, sementes de girassol. Além disso, deverá investir também em mais farelo de canola, de girassol e farinha de peixe para suprir esse gargalo deixado pela soja americana. Além disso, afirmou ainda que aumentar as importações de carnes também é uma opção.
"No longo prazo, a América do Sul e a região do Mar Negro ainda têm um ótimo potencial sobre suas áreas agricultáveis e poderiam carregar um papel ainda maior na cadeia de abastecimento global de soja", disse Xubo.
Cálculos do CNGOIC (Centro Nacional de Informações de Grãos e Óleos da China) mostram que a tarifação de 25% sobre a soja norte-americana aumentam os custos de importações deste produto em cerca de 700 a 800 yuans por tonelada, enquanto a soja importada do Brasil custa 300 yuans a mais.