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COTIDIANO

Reflexão: De volta ao banco da praça

28 de maio de 2017 às 06:01
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Aconteceu neste mês e teve o peso de um velório. Amanda e Fernando se separam. Eles mesmos, amigos de longa data, namoro que acompanhei desde a adolescência, testemunha de juras eternas de amor, madrinha de casamento e uma das primeiras a ficar sabendo do que por debaixo dos panos vinha sendo arquitetado há quase 4 anos.

– É, não deu mais, – disse Amanda quando me comunicou  a novidade totalmente segura de si.

– E os filhos?, argumentei.

– Estão crescidos.

– E a casa?

– Ficou comigo.

– E os cachorros?

– Ficaram com ele.

– E ele?

– Não nasci grudada nele – simplificou minha amiga já cortando o assunto. – Fernando vai sobreviver.

Entusiasmada com a nova vida que começa a ter, não consegui acompanhar a alegria de minha amiga. Primeiro porque não poderei mais conviver com o casal – ou saio com ele ou saio com ela – e segundo, muito me entristece saber que um amor tão puro, precoce e verdadeiro tenha data para terminar (26 anos). Ao nos deparamos com um casal se amando daquele jeito concluímos duas coisas: o amor existe, e na sequência desejamos um dia também sermos protagonistas de uma história linda e inocente como aquela.

Mas até ele, o amor de verdade, o amor que nasceu na escola, o amor cúmplice e sem traição, desmorona, e isso ratifica aquela irritante frase que rola por aí de que a única coisa que não muda é que tudo muda, o que também está valendo, pelo jeito,  para o amor eterno.

Amanda está na praça das disponíveis igual borboleta que não sabe em que banco parar. E está feliz. Já vi outras Amandas, mulheres que no início acharam divertida a liberdade, a mesma que enjoa e que volta a fazer sofrer. Daqui a alguns meses, minha amiga vai descobrir que aquele maravilhoso arquiteto divorciado de 56 anos é um esnobe metido a besta. "Veja só, ficou de me ligar e não ligou!!” Liberdade é bom, mas tem seu preço e exige maturidade para ser vivida, ainda mais quando a ela transferimos o leme de nosso destino.

Nessa onda de mudar de vida, sempre desejando que seja melhor, já vi amigas realizadas, plenas e felizes, mas houve quem voltasse a sofrer, a chorar, a maldizer o sexo oposto, a desejar um homem tal qual seu despejado, ultrapassado e barrigudo marido. Essas coisas – memórias, intimidades –  pesam na balança dos relacionamentos. Largar a companhia de 26 anos e esperar encontrar coisa melhor na praça pode ser um sonho tão distante quanto o amor verdadeiro.

Mas vá lá, tem gente que, de fato, quer voltar a ser solteira e encontra a felicidade dessa forma. Sendo assim, faço votos para que seja essa a próxima realidade de Amanda. Por minha vez, não consigo me imaginar organizando lista de novos telefones, jantar fora até às duas da manhã e muito menos saltitar pelo quarto depois que dois risquinhos da mensagem do whatsapp se tornaram azuis, emoção demais para uma semana só. 

Acho que sou careta mesmo, tenho ilusão de envelhecer juntinho, de ter berruga na ponta do nariz, de levar o pai dos meus filhos ao endocrinologista, sonho que narro sob chuva de gargalhadas de uma divorcianda que diz ser esta a maior das ilusões. Está certo, eu sei que meu destino não depende apenas de mim. Meu marido pode acordar com a pá virada um dia, dois, três e depois de 15 anos me dizer que está com vontade de ficar só. Choque? Sim, dos grandes, e a exemplo de Fernando nada poderei fazer contra isso. Ninguém está livre da porta do divórcio assim, do nada, escancarar a sua frente. Se acontecer, espero pelo menos que os cachorros continuem comigo.

 Vivian Weiand

vivian.weiand@gmail.com

A autora é Jornalista

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