Cotidiano

Dois jovens morrem baleados em 'mãe de todas as marchas' na Venezuela

Ao menos dois jovens morreram após serem baleados nos protestos da oposição nesta quarta-feira — chamados de "a mãe de todas as marchas" —, disseram opositores e fontes oficiais. Um confronto em Caracas teria começado na Plaza La Estrella, um dos seis pontos de concentração convocados pela Mesa de Unidade Democrática (MUD). Já no estado de Táchira, uma jovem de 23 anos foi morta em outro protesto, que teve mais de cem feridos por asfixia a gás lacrimogêneo. Opositores acusaram o governo de usar milícias para atacar os manifestantes.

Carlos José Moreno Baron, de 17 anos, foi levado ao Hospital das Clínicas de Caracas, mas morreu durante uma cirurgia. Ele cursava o primeiro semestre do curso de economia na Universidade Central da Venezuela e não estava participando dos protestos — Baron estava indo jogar futebol quando levou um tiro na cabeça.Em vários pontos da capital, policiais e militares jogavam gases lacrimogêneos contra opositores que se manifestavam, para impedir que avançassem até o centro da capital.

Inicialmente, as informações eram desencontradas sobre o seu estado de saúde: a Reuters relatava que ele estava vivo e passava por uma operação, enquanto o deputado da oposição Luis Florido dizia que o jovem tinha. No entanto, mais tarde, a agência confirmou o falecimento, citando três fontes oficiais.

O deputado Luis Florido enviou um comunicado alertando sobre o falecimento, sem informar a identidade da vítima:

"Lamentavelmente, foi atacada por grupos paramilitares a concentração de hoje, 19 de abril, em um dos pontos de partida: a Plaza La Estrella. Este jovem acaba de falecer de um tiro na cabeça. O regime de Nicolás Maduro desrespeita a essência da democracia, a dissidência".

A imprensa local também relata forte presença policial nas ruas, enquanto agentes de segurança limitam os acessos a Caracas.

— Emboscaram a todos nós e começaram a disparar na praça La Estrella — relatou a deputada Olivia Lozano ao "El Nacional", acrescentando que forças de segurança também teriam lançado bombas de gás lacrimogêneo.

Já em San Cristóbal, manifestantes relataram a morte da jovem Paola Ramírez, 23 anos, baleada durante um protesto na capital do estado de Táchira. Imagens nas redes sociais mostram um corpo coberto por um lençol e sua identidade.

"Lamento informar a morte de Paola Ramírez nas mãos de paramilitares chavistas, na praça Las Palomas", denunciou no Twitter o advogado Angel Colmenares, que divulgou algumas das imagens.

O protesto deixou mais de cem feridos, denunciaram opositores. Um dos feridos foi o líder juvenil local do partido Vontade Popular, José Bravo. Ele sofreu ferimentos na cabeça e estava em estado grave, segundo colegas.

De acordo com jornalistas no local, ao menos 15 guardas e policiais se feriram, enquanto um número indeterminado de manifestantes acabou preso.

'A MÃE DE TODAS AS MARCHAS'

Os últimos protestos na Venezuela foram marcados pela violência e pelos confrontos com a polícia. Pelo menos cinco pessoas morreram em decorrência de ferimentos nas manifestações. Na segunda-feira, onze países latino-americanos, incluindo o Brasil, assinaram uma carta pedindo que o governo venezuelano garanta aos seus cidadãos o direito de manifestação pacífica.

O objetivo do protesto é pressionar por eleições, a libertação de presos políticos e denunciar o que consideram uma ruptura da ordem constitucional. Os apoiadores de Maduro também prometem uma marcha histórica para a capital nesta quarta-feira.

A MUD convocou marchas em 26 pontos da capital e em partes do interior do país. Uma das suas principais demandas é a destituição dos juízes da Suprema Corte que determinaram, há algumas semanas, que o tribunal assumisse as funções do Parlamento, considerado em desacato. Poucos dias depois, a corte recuou da decisão sob forte pressão interna e externa.

Além disso, os manifestantes pediram a realização de eleições, a liberação de presos políticos e o respeito às decisões da Assembleia Nacional. Controlada pela oposição, a Casa frequentemente tem suas determinações anuladas pela Suprema Corte — acusada há tempos de servir ao governo Maduro.

Embora seja frequente palco da manifestações opositoras, Caracas é também o ponto de concentração dos que desejam honrar o governo Maduro. Os partidários do presidente se concentrararam em pontos-chave da cidade, incluindo em frente ao Palácio de Miraflores, sede do governo, e a Praça Venezuela. O número dois do chavismo, Diosdalo Cabello, afirma que o objetivo é impedir que a direita rompa a ordem constitucional na Venezuela.

Eleito em abril de 2013 para suceder Hugo Chávez, o presidente enfrenta forte pressão por conta da escassez de alimentos e remédios, agravada pela queda dos preços do petróleo. Trava uma guerra política contra o Parlamento, controlado pela oposição, que o chama de ditador.

'COMPLÔ MILITAR'

Na terça-feira, Maduro denunciou um complô militar contra o seu governo, em meio ao aumento de tensões e violência no país. O presidente disse que foram “desmantelados vários grupos”, e que foi preso um militar aposentado identificado como um dos líderes de uma suposta tentativa de golpe.

O governo anunciou uma operação chamada plano de Zamora, que consiste na mobilização de estrutura, militares, policiais e civis para garantir o funcionamento do país, sua “segurança, ordem interna e integração social”.

— A jurisdição militar está processando todos os conspiradores civis e militares, aposentados neste caso, e ativos já capturados ou em fuga para a Colômbia — acrescentou.

— O que Borges fez hoje constitui um crime contra a Constituição, e assim deve ser processado. (Ele) convoca os funcionários da Forças Armadas abertamente para um golpe de Estado — afirmou o presidente.