Na história da seleção brasileira, São Paulo carrega a fama de ser dos ambientes mais críticos, ainda que, na cidade, o Brasil não perca um jogo há 53 anos. Nesta terça-feira, num cenário radicalmente oposto, a Arena Corinthians recebe o jogo contra o Paraguai, às 21h45m, que pode até garantir a vaga antecipada na Copa do Mundo da Rússia. As oito vitórias em oito jogos sob o comando de Tite, técnico que se consagrou definitivamente ao colecionar títulos pelo Corinthians, clube dono do estádio onde acontecerá a partida, formam a combinação perfeita para que a seleção seja abraçada. Há três dias, um treino no Morumbi com 12 mil pessoas já dera o tom da relação reconstruída com a torcida. E o craque da seleção é o homem que personifica a transformação. Seleção brasileira – 24.03
Um processo gradual reconduziu Neymar ao posto de capitão da seleção principal após um ano, desde Dunga. Hoje, ele usará a faixa e se tornará a nova peça do rodízio que Tite promove ? Miranda, Daniel Alves, Renato Augusto, Filipe Luís e Fernandinho já foram capitães.
A história começou no dia 25 de março de 2016, no Recife. O então capitão Neymar deixou o empate em 2 a 2 com o Uruguai novamente suspenso e cercado de críticas ao seu comportamento, além dos boatos de uma relação ruim com a comissão técnica liderada por Dunga. A seleção também era bombardeada.
Vieram os Jogos Olímpicos do Rio, e o astro foi o capitão da conquista do ouro. Após o título, avisou que não gostaria mais de ser capitão. Ao assumir a seleção, Tite decidiu dar tempo ao craque e apostou na melhora do ambiente em torno do elenco. Em novembro do ano passado, o técnico já dizia ter certeza de que a situação se reverteria. Foi tendo conversas com o jogador, até que o cenário atual se mostrou adequado: o time quase classificado, a evolução coletiva tirando de Neymar a exigência de resolver problemas sozinho e um país abraçando a equipe. Laços se estreitaram entre Tite e o astro.
? Além de o grupo ser maravilhoso, trabalhar com o Tite faz a gente notar que, por ele, vale qualquer esforço. É por ele que estou fazendo. Ele me fez pensar sobre o modo de agir e trabalhar na seleção ? disse Neymar, que após terminar sua entrevista coletiva deu um abraço no técnico. ? Tite nos moldou da forma correta. De uma forma brasileira de jogar.
Em seguida, Tite, olhando diretamente para seu comandado, falou:
? Disse antes de virmos para cá e já tinha dito: ele merece. É um líder técnico, um garoto em fase de amadurecimento, com pressões, por vezes , desumanas. Todo o enfoque era em torno dele ? disse Tite, referindo-se ao período em que a seleção não conseguia vencer.
As críticas também não eram bem digeridas por Neymar: ele não dava entrevista coletiva desde antes das Olimpíadas.
? Todo mundo quer ter um momento só para si. Tinha decidido deixar de falar, baixar a poeira e pensar só em jogar futebol ? disse Neymar. ? Tomei cartões amarelos, vermelhos, prejudiquei meus companheiros. A gente vai ficando mais maduro.
CONTRA A ACOMODAÇÃO
O episódio Neymar foi o traço definitivo de um ambiente leve. Eis o próximo desafio da seleção: administrar uma autoconfiança que, a cada quatro anos, de forma pontual, tem dominado o futebol brasileiro em anos anteriores aos mundiais. As três Copas das Confederações vencidas em 2005, 2009 e 2013, ou encerraram períodos de crise ou elevaram ainda mais as expectativas. Casos mais emblemáticos foram os 4 a 1 sobre a Argentina, na final do torneio em 2005, na Alemanha, ou os 3 a 0 sobre a Espanha, no Maracanã, em 2013.
Enfrentar escolas diferentes da sul-americana, testar opções para manter o elenco alerta e aberto, fazer o time amadurecer e ganhar variantes táticas estão na agenda de Tite. Assim como evitar acomodações.
? Ter vencido oito jogos não nos ajuda nada contra o Paraguai. Eles vêm com grau de enfrentamento alto, competitividade ? afirmou Tite, sendo direto ao dizer por que fechou treinos. ? Tem momentos que são mais íntimos, de ser mais duro, em que posso cobrar mais e exigir concentração máxima.
MATEMÁTICA PARA AVANÇAR
Para garantir vaga antecipada à Copa, o time de Tite precisa vencer o Paraguai ? o que nunca é uma tarefa fácil, até porque os paraguaios estão bem vivos na disputa ?, e torcer por derrotas de Equador e Chile, quinto e sexto colocados, respectivamente, contra Colômbia e Venezuela.
A seleção não pode relaxar.
Brasil: Alisson, Fágner, Miranda, Marquinhos e Marcelo; Casemiro; Philippe Coutinho, Paulinho, Renato Augusto e Neymar; Roberto Firmino.
Paraguai: Anthony Silva, Valdez, Paulo da Silva, Marcos Cáceres e Alonso; Riveros, Rojas, Victor Cáceres e Derlis González; Cecilio Domínguez e Lezcano.
